25.8.08

Relatos de um peregrino: desinstalações

Pois é. O primeiro dos muitos atrasos começou em Brasília, mesmo. Meu avião demorou duas horas pra sair, e eu ali, no saguão de embarque, conhecendo algumas pessoas novas. Quando finalmente embarquei, deparei-me inevitavelmente com uma ansiedade que surgiu em mim recentemente, há cerca de cinco anos: voar. Impressionante, mas não sei explicar nem como, nem porque. O fato é que precisei colocar uma coisa na cabeça: minha vida está nas mãos de Deus, e mais importante era confiar. Afinal, mais do que um vôo de uma hora e meia para São Paulo, eu enfrentaria o Pacífico todo pela frente!

Só fiquei receoso por causa de minha amiga... O celular nunca funciona quando precisamos! O meu tem o dom de ficar sem bateria nos momentos mais cruciais, como, por exemplo, no saguão de embarque, com meu vôo atrasado. Eu havia combinado com ela um certo horário para me pegar no aeroporto de Congonhas, e não tive como avisar do atraso.

Apesar disso, a viagem foi tranqüila, e eu me senti muito mais calmo do que quando fui a São Paulo no ano passado. Após o desembarque em Guarulhos, já com o mochilão nas costas, corri para comprar a passagem do translado para Congonhas, e dei sorte por ter um ônibus saindo quase que de imediato. Fora a surpresa do calor naquele dia -- ano passado, na mesma época, só se via frio! --, o ônibus do translado me pregou uma peça: um óleo "vindo-não-sei-de-onde" fez o favor de se derramar sobre todo o meu mochilão, ou especialmente em pontos estratégicos. Por sorte, toda a minha roupa e calçado estavam em sacos plásticos... à exceção de minha toalha! Não preciso nem dizer que, pelo menos para a viagem, a perda foi total. Tive que ficar uma semana e alguns dias usando toalhas emprestadas. Detalhe: fiquei cinco dias com uma tolha de rosto!

E sabe de uma coisa? Não me perturbou muito isso, não. "Faz parte", pensei, como pensaria em tantas outras fadigas durante a jornada. Realmente, faz parte de uma peregrinação o inesperado, o elemento surpresa, o susto. Jornada é experiência de se desinstalar, deixar as seguranças de lado e se lançar numa santa aventura. E não poucas vezes Deus dá a graça de uma desinstalação interior, também. Basta que prestemos atenção e não percamos a oportunidade de abraçar essa chance que Ele nos dá.

Porque depois Ele se supera e nos enche de bênçãos. A primeira foi quando, já em Congonhas, pude rever minha amiga, que pacientemente me esperava.

Até mais!

5.8.08

Relatos de um peregrino: algumas prévias

Deus me dê a graça de relatar não apenas as impressões exteriores, mas principalmente as marcas interiores da incrível experiência que foi a WYD 2008.

Desde já adianto que pensei num registro cronológico, porque me facilita lembrar dos detalhes, dos efeitos causados em mim, mas vou procurar ser o mais livre possível. Assim, espero que seja fácil a leitura mesmo quando eu ir e vir no tempo.

Graças a Deus não tive muita dificuldade para conseguir chegar em Sydney. A parte mais difícil foi tirar o meu primeiro passaporte... Fiz a solicitação pela internet e, no dia marcado, fui ao aeroporto. Chegando lá, descubro que devia ter feito o agendamento, mas o cidadão me deu uma informação equivocada e me enviou ao setor policial sul... Pois é, adivinha? Chegando lá, o rapaz espantado -- quase nervoso -- me diz que só pela internet, e só no aeroporto. Bem, claro que foi tudo um descuido meu, fiquei irritado, mas passou logo. Para mim, aqui eu já havia me tornado um peregrino.

Houve também outros documentos que precisei tirar além do visto, para uma missão especial que teria na WYD. Alguns movimentos e comunidades internacionais ficaram responsáveis por, no dia 18 de julho, durante a Via Sacra -- the Stations of the Cross --, evangelizarem os peregrinos e cidadãos de Sydney que estivessem por lá, acompanhando cada estação da Paixão do Senhor. A Comunidade Shalom foi uma das comunidades; e eu, um dos membros. Portanto, precisei me cadastrar como volutário. Mais alguns formulários, e pronto. Era só embarcar.

Como cristão, como filho da Igreja, como shalom, meu coração já estava em Sydney, mesmo fisicamente ainda no aeroporto de Brasília. Deus já estava me fazendo surpresas, e na véspera me havia chamado para uma outra missão... Mas isso vai ser um outro relato. Motivado por tudo isso, e ainda tendo uma escala em São Paulo -- onde participei da Santa Missa festiva dos 26 anos da Comunidade --, já no saguão de embarque de Brasília meu coração se abria, se escancarava para o homem. As pessoas não me pareciam mais estranhas. Estavam próximas, eram da família.

Começava, assim, minha maior experiência de Igreja até hoje -- exceção feita à Santa Missa. Levava comigo expectativas, incertezas, desejos, saudades... Pessoas preciosas embarcavam comigo. Não no avião, nem no álbum de fotos; levava cada um no coração. Hoje, com a simples partilha que se inicia aqui, espero que possam experimentar o que, por mim, viveram em Sydney.

Até a próxima.