5.5.08

Sinal de paz.

Eu já tive o propósito, hoje um tanto marginalizado, de escrever sobre fatos ordinários da vida. O que vivi hoje me fez retomar esse propósito. Não houve nada de extraordinário. Foi, de fato, corriqueiro, simples, ordinário, e por isso mesmo belo e forte.

Futebol. Surgiu como algo bem despropositado, tinha tudo para dar errado. "- Vamos? - Vamos. - Quem vai? - Não sei ainda. - Fulano falou com sicrano, que disse que beltrano vai também." Ou seja, uma bela e organizada desorganização. Mas é bom quando é assim. Entendam: estou falando de futebol, pelada, racha, baba, ou qualquer outro nome regional que se queira dar. É óbvio que essa "filosofia" não funciona para tudo. Aliás, para quase nada. Planejamento é muito importante. Oração, nem se fala! ORAÇÃO + PLANEJAMENTO, então, é igual a se aproximar da VONTADE DE DEUS.

Mas, às vezes, é bom darmos oportunidade ao acaso, a que vejamos as oportunidades e situações com os olhos de Deus. Chegamos os primeiros três, com uma bola murcha, sem bomba. Na quadra, duas crianças brincavam, e não as queríamos expulsar de lá. Eu até pensava: "caramba, eu tinha muita raiva quando os mais velhos tomava conta da quadra, e eu tinha que sair... Não vou fazer isso com eles". Pelo menos por enquanto. Quando mais três rapazes se aproximaram, com sua própria bola, vi que era hora de marcar território.

Ficamos de uma lado, as crianças do outro. Quando os rapazes chegaram, ficaram no lado das crianças. É, tiveram que sair. "Bem, já são 19h. Acho que é melhor eles irem, mesmo." Que bom que essas crianças tinham para onde ir. Espero que, lá para onde foram, tenham também uma família que as eduque no amor. Digo isso porque também aproveitei muito a rua, as brincadeiras, o futebol até mais tarde, mas tive também, dentro de casa, quem me orientasse, corrigisse o caminho, e apontasse um outro mais seguro. Na verdade e no amor, palavras que devem sempre caminhar juntas. Hoje, infelizmente, em muito lares ou falta o amor, ou falta a verdade. Ou mesmo ambos. Então, quem educa é a rua.

Começaram a chegar mais meninos, dos nossos e da quadra. E começou, enfim, o futebol. Será que você consegue imaginar a alegria de jogar futebol à noite, depois de seu time ter se sagrado campeão? Eu sempre te amarei, onde estiver estarei. Oh! Meu Mengo! Tu és time de tradição, raça amor e paixão. Oh! Meu Mengo! Fecha parênteses.

Parecia haver um abismo entre um grupo e outro. Ou talvez uma ponte. Achei interessante quando o filho de um amigo -- ambos jogavam conosco -- se sentiu desconfortável com a quantidade de palavrões que o outro grupo falava. Isso era apenas um dos sintomas. Sintomas de termos sido contagiados, sem mérito algum, por um gérmen, uma semente de eternidade. Acredito que Aquele que escolheu o acaso, nesse caso, escolheu esse dia feliz de futebol para contagiar outros jovens. Enquanto fazíamos o quê? Jogávamos. Assim, simplesmente, alegremente, pacificamente. Sim, porque havia alguns que estavam mais exaltados, que se irritavam quando perdiam. Tudo na mais perfeita normalidade. Mas, porque sabíamos que eles também deveriam -- e queriam -- ser tocados pela eternidade, estávamos próximos. Amigos. Por mais que não nos conhecessem.

Na troca de times, que perdiam e davam lugar para que outros jogassem, conseguimos pegar o e-mail de todos; dos que não tinham e-mail, telefone. Tomaram conhecimento do Acamp's de jovens, e tudo o mais. Aconteceu até de apartarmos uma briga entre pedintes. Briga feia, diga-se de passagem. O ponto fundamental é: sinal de paz. É preciso sermos esse sinal, em todo lugar, em toda circunstância, por mais planejada ou fortuita que seja. Homens, mulheres, jovens, crianças, adultos, todos precisam. Nós precisamos.

E, por falar em sinal de paz, vou fugir um pouco do futebol e agradecer por ter sido alvo, recentemente, da misericórdia de Deus. Mais uma vez, e sempre. Uma conversa sincera, no amor e na verdade, pode, com uma força avassaladora, voltar nosso olhar para Deus. É bom depender de Deus e dos irmãos, pois fomos criados para relação, e não para o individualismo. É bom sair do superficial, e se deixar tocar em coisas mais profundas, escondidas.

Como aqueles meninos me tocaram.

Obrigado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom Camilo. Em acontecimentos simples semear a paz!!
Que cada vez mais Deus lhe conceda a liberdade interior e a graça de ser tocado na sua verdade.

Fique com Deus
Shalom
Pati